Estudo alerta que alguns impactos ocasionados pelas mudanças climáticas, como o aumento do nível do mar, serão irreversíveis por centenas ou milhares de anos
Por Ana Clara Faria

Sim, o aquecimento global é real, está diretamente relacionado à atividade humana e seus impactos tendem a ser cada vez maiores — em alguns casos, irreversíveis. É o que reforça o último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), divulgado nesta segunda-feira (09).
O estudo explica que nos últimos 50 anos a temperatura da superfície do planeta aumentou, devido à ação humana, em um ritmo inédito nos últimos, pelo menos, 2 mil anos. Uma das principais atividades humanas relacionadas a esse aquecimento é a emissão dos chamados gases de efeito estufa, dentre eles o dióxido de carbono (CO2).
O relatório aponta que as concentrações de CO2 na atmosfera, atualmente, são as maiores em um período de pelo menos 2 milhões de anos. As concentrações de metano e óxido nitroso, que também fazem parte do grupo dos gases de efeito estufa, são as maiores em pelo menos 800 mil anos.
Segundo o relatório, a ação humana — principalmente a emissão de gases de efeito estufa — tem causado um aquecimento na temperatura global de aproximadamente 1,1ºC em comparação com os níveis pré-industriais (entre os anos 1850 e 1900). O IPCC também prevê que, se mantida a tendência atual de aumento da temperatura, o planeta atingirá a marca de 1,5ºC de aquecimento entre 2030 e 2052.
O relatório observa que os impactos das mudanças climáticas serão maiores se o aquecimento for de 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais, mas menores do que um cenário de aumento da temperatura global em 2ºC. Atingindo 1,5ºC, a previsão dos especialistas é de aumento das ondas de calor, aumento na duração das estações quentes e redução na duração das estações frias.
“A evidência é irrefutável: as emissões de gases de efeito estufa estão sufocando nosso planeta e colocando bilhões de pessoas em perigo” (tradução livre), afirma o secretário-geral da ONU, António Guterres.
Efeitos extremos
O IPCC alerta para os perigos do aquecimento global tanto no futuro quanto no presente, citando o aumento nos últimos anos, em diferentes partes do mundo, na ocorrência e na intensidade de eventos extremos, como ondas de calor, secas, ciclones, chuvas intensas e enchentes, derretimento de geleiras, entre outros.

Aumento no nível do mar
Outro efeito das mudanças climáticas destacado pelo relatório é o aumento do nível médio do mar: no último século, a taxa de aumento tem sido maior do que em qualquer outro século pelo menos nos últimos 3 mil anos. O aumento do nível dos oceanos também está associado a catástrofes ambientais e prejuízos a diferentes setores da sociedade, colocando em risco imediato populações de regiões costeiras, por exemplo.
Ainda segundo o estudo, o aumento no nível do mar é um dos efeitos do aquecimento global que continuarão existindo nos próximos séculos ou milênios.
Zerar emissões de CO2 é uma das recomendações
De acordo com os especialistas que contribuíram para o estudo, a temperatura do planeta pode ser estabilizada entre 20 e 30 anos se forem feitos esforços significativos e imediatos de redução na emissão de gases de efeito estufa. “Nós devemos decididamente agir agora para evitar uma catástrofe climática” (tradução livre), observa Guterres.
A recomendação é que as emissões de CO2 sejam reduzidas até que sejam zeradas. Em outras palavras, o saldo entre o que é emitido na atmosfera e o que é reduzido ou absorvido deve ser zero. Além do CO2, os especialistas também recomendam a diminuição das emissões de outros gases estufa, principalmente o metano — que corresponde a cerca de 16% do total de emissões de gases de efeito estufa no mundo.
“Nós temos agora uma visão muito mais clara do clima do passado, do presente e do futuro, que é essencial para entendermos para onde estamos indo, o que pode ser feito, e como nós podemos nos preparar” (tradução livre), afirma Valérie Masson-Delmotte, copresidente do grupo de trabalho responsável pelo relatório recém-divulgado pelo IPCC.
O relatório divulgado nesta segunda-feira é a primeira parte do Sixth Assessment Report do IPCC, cuja versão completa tem previsão de lançamento para 2022. Esta primeira parte contou com a contribuição de 234 cientistas de 66 países.
Saiba mais sobre o último relatório do IPCC aqui
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